9.01.2006

 

Período do Mandato Britânico – 1920/1948

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A “declaração Balfour” promete uma pátria judaica na Palestina

“A declaração Balfour, feita em Novembro de 1917 pelo Governo Britânico… foi feita
a) por uma potência europeia;
b) a respeito de um território não-europeu;
c) na mais absoluta indiferença quer pela presença quer por desejos expressos da maioria dos nativos ali residentes”..
(de acordo com declarações escritas pelo próprio Balfour em 1919):
“…As contradicções de conteúdo da “Aliança” (tendo prometido a declaração anglo-francesa de 1918 a independência aos árabes das colónias Otomanas como recompensa do seu apoio aos aliados) são ainda mais flagrantes no que toca à nação Palestina independente do que à nação Síria independente. Porque no caso da Palestina nem sequer propomos empreender qualquer consulta popular junto dos residentes naquele território; As quatro potências estão comprometidas perante o sionismo e apenas perante ele, esteja certo ou errado, seja bom ou ruim, esteja baseado em tradição remota ou necessidades apenas actuais e expectativas futuras de maior calibre que o prejuízo de 700 000 árabes que actualmente residem naquele antigo teritório…”
In: “The Question of Palestine”, de Edward Said.

A Palestina: terra desértica antes da chegada dos judeus?

“O alto comissário britânico para a Palestina, John Chancellor recomendou a suspensão total da emigração para a Palestina e a compra de terra, para protecção da agricultura dos árabes. Declarou que “toda a cultivável se encontra ocupada e que nenhuma parcela da mesma poderia ser vendida a judeus, a menos que se quisesse criar uma classe de agricultores árabes sem terra…”
O Ministério das Colónias rejeitou essa recomendação, de acordo com o que nos diz John Quigley na sua obra “Palestine and Israel: A Challenge to Justice”.

Os sionistas fundadores planeavam coexistir com os Árabes?

Em 1919 a “Americam King-Crane Commission” passou seis semanas na Síria e na Palestina entrevistando delegações e lendo requerimentos.
No seu relatório podia ler-se: “…os membros da comissão iniciaram o estudo do sionismo tendo inicialmente uma predisposição favorável ao mesmo… Tornou-se porém repetidamente evidente nos seus encontros com os sionistas que estes tinham a intenção de excluir completamente os actuais residentes não judeus da Palestina, através de formas várias de compra…”

“…Se o princípio da autodeterminação é para pôr em prática, e se os desejos do povo palestiniano são para ser tidos em conta, deve lembrar-se que a população não judaica da Palestina - ou seja, nove décimos da mesma – estão declaradamente contra o programa sionista. Sujeitar um povo assim determinado a uma imigração ilimitada de judeus , a par com uma pressão financeira e social para que cedam terras, será uma violação grosseira do princípio referido.
“…Nenhum dos agentes britânicos contactados pelos membros da Comissão acreditava que o programa sionista pudesse ser levado a cabo a não ser pela força das armas. Pensavam aliás, duma forma geral que, mesmo para lhe dar início, seriam necessários nunca menos de cinquenta mil homens. Por si só esse facto comprova o forte sentido de injustiça que caracterizava o programa sionista. …”
“…A pretensão inicial, frequentemente apresentada por representantes sionistas, de que tinham “o direito” à Palestina com base na ocupação de há dois mil anos, dificilmente pode ser levada a sério..”
Vide: “The Israel-Arab Reader”, ed. Laquer and Rubin.

Lado a lado – continuação


“…A política de terras dos sionistas foi incorporada na Constituição da Agência Judaica para a Palestina;
“…a terra é para ser adquirida como propriedade judaica e o título de posse deve ser registado em nome do Fundo Nacional Judaico, com a finalidade de que o mesmo deve ser conservado como propriedade inalienável do povo judaico…”
Essa determinação vai ao ponto de estipular que a Agência deve promover a colonização de tais terras por mão de obra judaica…
O efeito para os árabes desta política sionista de colonização, era de que a terra adquirida pelos judeus como que desaparecia do mapa, cessando de existir para eles no presente e no futuro, fosse para que efeito fosse…”

“…Os sionistas não ocultaram as suas intenções, tanto que em 1921 o Dr. Eder, membro da Comissão Sionista, declarou desassombradamente em Tribunal que:
- Apenas pode existir uma pátria na Palestina, e terá de ser Judaica, sem igualdade na parceria entre árabes e judeus, mas sim preponderância destes sobre aqueles, logo que seja possível reunir uma quantidade suficientemente numerosa de elementos da mesma raça; ao que acrescentou a pretensão de que apenas aos judeus seria permitido o uso de armas…”
In: “Bitter Harvest”, de Sami Hadawi.

Frente à oposição árabe, terão os sionistas feito diligências para estabelecer “regras maioritárias” na Palestina?

“É claro que a última coisa que os sionistas desejavam era de que todos os habitantes da Palestina tivessem direitos iguais no governo do território…” Chaim Weizmann tinha inculcado junto de Churchill a ideia de que um governo democrático-representativo teria ditado o insucesso da Pátria Nacional Judaica na Palestina…”
“Churchill declarou que:
“- A actual forma de governo continuará por muitos anos. Passo a passo desenvolveremos instituições representativas que conduzam ao pleno auto-governo, mas os filhos dos nossos filhos morrerão antes que isso possa ser uma realidade…”
In: “The Gun and The Olive Branch”, de David Hirst.

A recusa aos árabes de auto-determinação

“Mesmo que ninguém perca a sua terra, o programa sionista era injusto à partida porque recusava direitos políticos à maioria.
Os sionistas, em princípio, não podiam conceder aos povos nativos da região o exercício de direitos políticos, porque isso implicava a condenação da sua empresa…”
In: “Original Sins”, de Benjamin Beit-Hallahmi.

Resistência árabe ao sionismo pré-israelita

“…em 1936-39 os árabes da Palestina tentaram uma revolta nacionalista… David Ben-Gurion, eminentemente um realista, reconheceu a natureza da mesma. Em discussões internas referiu que “na nossa argumentação política exterior minimizamos a importância da oposição que nos é feita pelos árabes”, mas acentuou que “entre nós não devemos ignorar a verdade”. E a verdade era que “politicamente nós somos os agressores e eles estão a defender-se… O país é deles, porque o habitam, enquanto que nós queremos vir-nos estabelecer aqui, o que na sua opinião significa que lhe queremos usurpar a sua terra, sem termos sequer entrado ainda…”
A revolta foi esmagada pelos britânicos, com brutalidade, de acordo com o que nos diz Noam Chomsky no seu livro “The fateful Triangle”.

A opinião de Gandhi a respeito do conflito na Palestina, 1938

“…a Palestina pertence aos árabes no mesmo sentido que a Inglaterra pertence aos ingleses ou a França aos franceses…
Aquilo que está a acontecer hoje em dia na Palestina não pode ser justificado por nenhum código moral de conduta...
Se os judeus olham para a Palestina como a sua pátria natural, é errado dar entrada ali ao abrigo da protecção armada britânica. Um acto religioso não pode ser perpetrado à ponta das baionetas e à bomba...
Apenas podem estabelecer-se ali se houver boa vontade dos árabes… e, como as coisas se apresentam limitam-se a ser cúmplices dos ingleses na espoliação de um povo que não lhes fez mal nenhum...
Não estou a defender os excessos árabes. Preferia que eles tivessem escolhido a via da não-violência para resistir contra aquilo que eles consideram uma invasão do seu próprio país. De acordo com os modelos normalmente aceites de certo e de errado, nada pode ser dito contra a resistência árabe em face de infortúnios arrazadores…”
Palavras de Mahatma Gandhi, citado em “A Land of Two Peoples”, ed. Mendes-Flohr.

Qual a percentagem de terra comprada pelos sionistas antes do estabelecimento de Israel?

“...Em 1948, no momento em que Israel se declarou um estado, era proprietário de pouco mais de 6% (seis por cento) da terra da Palestina…
Depois de 1940, quando autoridades mandatárias restringiram a posse da terra pelos judeus a zonas específicas no interior da Palestina, continuou a haver compras (e vendas) dentro dos 65% da área total da Palestina que era exclusiva dos árabes.
Desta forma, quando o plano de partilha foi anunciado em 1947 incluiu terras que estavam ilegalmente na posse de judeus, cuja incorporação no interior das fronteiras do estado judaico foi entendido como “facto consumado”. E depois de Israel ter anunciado a constituição do seu estado, uma impressionante quantidade de leis fizeram a assimilação de vastas porções de terreno (cujos proprietários tinham passado à condição de refugiados e pronunciados como “proprietários absentistas”, de forma a permitir a expropriação das suas terras e impedir o seu regresso sob que circunstâncias fosse)…”
In: “The Question of Palestine”, de Edward Said.

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